'Os homens gostariam quase sempre de estar no tempo e no espaço, onde não estão. Perigosa ilusão. O lugar de cada um no mundo é o desejo eterno do Pai com relação a ele. Para que sua vida tenha êxito, para que a humanidade tenha êxito, graças a Ele. O homem, cada homem deve estar o mais perfeitamente possível presente em seu lugar. Sua vida é uma obra Divina. O Cristo fez de uns, apóstolos; de outros, profetas ou evangelistas; ou então pastores e doutores, organizando assim os santos para a obra do ministério, para a construção do Corpo de Cristo. No termo desta construção devemos chegar todos juntos a ser apenas uma coisa só na fé... È Dele que o corpo inteiro recebe concórdia e coesão... Segundo o papel de cada parte, operando assim seu crescimento e construindo-se na caridade.' (Carta de São Paulo as cristãos de Éfeso 4,11-16).
No Estádio, esta noite. A noite se mexia, povoada de dez mil sombras. Logo que os refletores tingiram de verde o veludo do imenso gramado, à noite entrou um coral, alimentado por dez mil vozes. É que o mestre- de- cerimônias dera sinal para começar o ofício.
A imponente liturgia se desenrolava perfeitamente em ordem. A bola branca voava de oficiante como se tudo tivesse sido preparado de antemão, minuciosamente. Passava de um para o outro, corria pelo gramado ou voava por sobre as cabeças. Cada um se achava em seu lugar, recebendo-a por sua vez, com chutes compassados, passava-a ao outro – e o outro lá estava para acolhê-la e dar o passe. E por que cada qual fazia seu trabalho no lugar onde era preciso. Por que cada qual dava o esforço pedido?
Por cada qual sabia que precisava de todos os outros. Lentamente, mas com segurança, a bola ia avançando. E, então após ter recolhido o labor de cada um, após ter reunido o coração dos onze jogadores, o time lançou a bola e marcou o tento da vitória.
Quando penosamente, à saída, escorria a multidão imensa pelas ruas estreitas, eu pensava: Senhor, a história humana, para nós, é uma longa partida, para Ti é essa grande liturgia, prodigiosa cerimônia começada na aurora dos tempos que só terminará quando o último oficiante tiver executado seu gesto derradeiro. Neste mundo, Senhor, cada um de nós tem seu lugar. Treinador previdente, desde sempre no-lo destinavas. Precisa de nós neste lugar, nossos irmãos precisam de nós e precisam de todos. Não é o posto que ocupo, Senhor, que é importante, mas a perfeição e a intensidade de minha presença.Que eu esteja adiante ou atrás isto que importa? Se eu sou ao máximo aquele que devo ser.
Aqui está Senhor, meu dia à minha frente. Não me refugiarei por demais no meu canto, criticando os esforços dos outros, com as duas mãos enfiadas no bolso?Guardei bem meu lugar e,quando olhavas nosso campo, será que me encontrastes lá, a postos?Recebi o passe de meu vizinho e o passe do outro la no fim do gramado? ““Servir” bem aos colegas do time sem fazer um jogo “ pessoal” demais para me pôr em evidência? “construi” o jogo para que a vitória fosse alcançada e todos contribuíssem? Lutei até o fim apesar dos insucessos, das pancadas, das feridas?Não me perturbei pelas manifestações dos companheiros,dos expectadores? Não desanimei pelas incompreensões e recriminações?Não me vangloriei com os aplausos? Pensei em rezar durante a partida que jogava, sem esquecer que aos olhos de Deus este jogo dos homens é o mais religioso dos ofícios? Estou de volta agora, Senhor, vou descansar no vestiário.Amanhã, se deres o sinal de saída, jogarei de novo um meio tempo. E assim cada dia... Faze que com essa partida, celebrada com todos os meus irmãos, seja a importante liturgia que Tu de nós esperas, a fim de que, quando deres o último apito, interrompendo nossa vidas, sejamos selecionados para a Taça do Céu.
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