quarta-feira, 9 de março de 2011

Uma nova quaresma, uma nova pessoa

Dia 9 de março, com a sugestiva celebração das Cinzas, volta um tempo fascinante, autêntico, como o da Quaresma. Sabemos todos que este tempo está relacionado ao número 40, principalmente acerca dos quarenta dias em que Jesus foi tentado no deserto. Exatamente no dia 18 de abril, serão passados 40 dias após a Quarta-feira de Cinzas: será segunda-feira santa. Com 46 dias, no dia 23 de abril, celebraremos a Páscoa. Raramente a festa da Páscoa é tão “alta”, isto é tão avançada no calendário. Isso porque a Páscoa é marcada na primeira lua cheia do hemisfério norte, após o início da Primavera no mesmo hemisfério, o dia 21 de março.

A quaresma é proposta como um tempo de revisão da nossa vida; a gente aprende que a vida não acontece apenas fora de nós, mas a vida está dentro de nós, a vida somos nós, nossa história, nossos sucessos e fracassos.
Quem sou eu hoje, quais atitudes e sentimentos mais nobres possuo? Existe algo de mesquinho nas minhas atitudes? Quanto é importante a Palavra de Deus para mim? Consigo me empenhar para mudar? O que causa angústia na minha vida? Posso mudar isso? Sou feliz? Posso ser mais feliz? A minha vida tem uma boa qualidade? O que acho de mim mesmo?
Precisamos também nos ver dentro de uma comunidade. Não somos seres isolados, não somos ilhas. Bem ao contrario, a nossa mais importante necessidade é amar e sermos amados.
Como me sinto na minha família? Quais as coisas mais bonitas que vivo em família? Há problemas? Posso fazer algo para melhorar? Como me sinto na minha comunidade? Sou uma pessoa valorizada? Eu me valorizo? Tenho tarefas interessantes? Sinto-me parte de um projeto maior? Sinto-me parte da Igreja? Ajudo alguém? Tenho amigos verdadeiros na comunidade?
Parece que tantas perguntas vão nos deixar angustiados…, mas não é assim. Este processo tem que ser leve, harmonioso, porque conhecer a nós mesmos só nos faz bem, nos torna melhores.
É um momento de graça, porque a certeza maior é que Deus nos ama assim como somos. Ele nos envia sua luz e sabedoria para que possamos tirar da nossa vida aquilo que nos faz sofrer. Ao vencer um meu defeito ou uma atitude errada, estou tirando da minha vida um sofrimento inútil. A nossa conversão não é fruto da cobrança de um Deus exigente, mas é fruto do amor de um Deus que tem coração de mãe e não quer ver a gente sofrer à toa.
Quando carregamos o nosso coração de inveja, ciúmes, rancores, ressentimentos, mágoas, vingança, agressividade, violência, desprezo, estamos em um processo de autodestruição. A conversão não é um processo penoso de quem se culpa de tudo, mas um processo harmonioso de quem se conhece mais intimamente e se constrói como uma nova pessoa. Isso é fascinante. Quaresma é vida. A Penitência quaresmal não é um processo negativo, mas a descoberta de uma vida nova. A pessoa pode jejuar para emagrecer e assim se sentir melhor e mais bonita. Podemos jejuar também para partilhar o fruto do jejum com alguém que precisa. Posso fazer jejum de discussões para melhorar a relação na minha família. Posso fazer jejum de TV, para ler um bom livro. Posso fazer jejum de mentiras, para aprender a verdade. Posso fazer jejum de uma compra inútil, para não ser escravo das coisas. Posso fazer jejum de carro, para andar um pouco mais a pé e ser mais saudável. Posso fazer jejum de palavras e barulho, para aprender que no silêncio Deus fala comigo. Posso fazer jejum do meu orgulho, para aprender que não sou mais de ninguém.
Assim morre o homem velho que estava dentro de mim. Nasce um homem novo, mais feliz, mais verdadeiro. Boa Quaresma a todos!
 Com carinho,
Padre Graciano

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