terça-feira, 27 de setembro de 2011

Profecia e profetas


Neste mês de setembro, juntando ideias e material sobre os profetas da Bíblia, acabei
refletindo bastante sobre o valor da profecia, no tempo da história bíblica e nos tempos de hoje.
Contrariamente ao que se pensa em geral, ser profeta não é adivinhar o futuro, mesmo que em alguns momentos os profetas tenham feito isso.

Os profetas do AT – Antigo Testamento – são pessoas intimamente ligadas a Deus e, por isso, profundos conhecedores da alma humana.
Eles têm uma grande capacidade: mesmo quando
todo mundo está perdido, e todos abraçam a mentira como sendo a verdade, eles são capazes de enxergar a verdade e não perdem o rumo certo.
Vejo neles a mesma função do farol para os navios, que têm nesta pequena luz a certeza de estarem próximos da terra.
No tempo do povo de Israel, os profetas agiram, principalmente na época da monarquia, denunciando o sistema iníquo de impostos exigidos pelos Reis; a
cidade vivia no luxo enquanto o campo, que gerava a economia com a agricultura e agropecuária, se tornava cada vez mais pobre. Por isso, os profetas denunciavam o luxo da cidade, anunciando seu fim: “… então, em lugar do perfume haverá podridão; no lugar do cinto estará a corda; no lugar das tranças haverá uma cabeça raspada; pano de saco em lugar de roupas luxuosas…. “ (Isaías 3,23-24).
Hoje parece que estamos em falta de profetas; todos caminhamos numa vida sem
sentido e ninguém nos alerta mais. Vejo falta de “profecia” na mesma Igreja, na mídia, na vida política, nas artes e na música.
Quando em Israel faltavam os profetas,o povo entendia aquilo como o silêncio de Deus. Perante tanta deturpação da vida e da própria religião, Deus não tinha mais nada a dizer.
Hoje, que a cultura ama as coisas e comercializa as pessoas, numa total inversão de valores, precisamos romper este silêncio de Deus, abrir as nuvens do céu, para que do alto a inspiração divina suscite uma nova profecia.
Uma cultura pós-moderna, sem profecia, está sendo capaz de acabar com os grandes
sonhos da humanidade; sonho de uma humanidade mais fraterna, de um mundo mais
amigo da natureza, de uma história de paz, sem guerras e absurdos conflitos.
Os jovens sem sonhos são entregues ao vazio de sentido: as consequências estão aí.
A televisão e seus reality shows, totalmente surreais, comprova aí uma mídia que desiste
de criar cultura em favor dos rendimentos financeiros das emissoras.
A profecia nunca falou para as massas e nunca obteve a aprovação popular.
Ao contrario, os profetas são perseguidos com violência ou marginalizados como loucos.
Precisamos de profetas que mostrem a fragilidade deste mundo sem valores.
Precisamos de profetas que mostrem como estamos vendendo a nossa consciência ao dinheiro.
Precisamos de profetas que nos ajudem a voltar a sonhar por um mundo melhor, mais simples, mais fraterno.
Precisamos de profetas que nos devolvam a família como centro da nossa sociedade.
Precisamos de profetas que nos falem de um Deus-Pai bondoso e Pai de todos e não só de alguns privilegiados, como fez o
profeta Jesus, e não precisamos de um Deus “capitalista”, que negocia suas bênçãos e proteção com o nosso dinheiro.
Precisamos de profetas que nos ensinem que antes da ressurreição existe o sofrimento da cruz, e que ainda Jesus continua crucificado nos
injustiçados e miseráveis deste mundo.

Por Padre Graciano Cirina
Pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas

Texto publicado no jornal 'Um só coração' e no site Sou Sagrado Sou Feliz

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