terça-feira, 10 de abril de 2012

A vida que vence a morte

A luz do Cristo ressuscitado resplandece e ilumina todos os recantos da existência humana, portadora de esperança e vida. É Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo! A Igreja de Cristo celebra sua festa maior, oferecendo a todos os homens e mulheres o grande anúncio: “Eis agora a festa da Páscoa, em que o real Cordeiro se imolou: marcando nossas portas, nossas alma, com seu divino sangue nos salvou. Esta noite de Páscoa lava todo crime, liberta o pecador dos seus grilhões; dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os corações” (Proclamação da Páscoa na grande Vigília).
   
Celebramos a festa da Páscoa. Na Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, entramos no Cenáculo, “num andar de cima” (cf. Mc 14,15). Interrompe-se o ritmo do cotidiano para pensar nas coisas do alto (cf. Cl 3,2). Começou a Páscoa com a Páscoa da Ceia! Ali tudo ganha um novo sentido. A Páscoa é preparada! Quem sabe os discípulos que foram à casa, para que tudo estivesse pronto, sejam figura do povo de Deus que conclui sua Quaresma. Prepara-se esta mesa com a sobriedade do jejum e da abstinência, para se chegar à abundância do banquete da vida eterna. Para entrar no Cenáculo, o bilhete de entrada é a caridade vivida, um amor misterioso que inquieta, pois é mais do que uma simples amizade.

É a noite de Seu novo mandamento, tornado visível no gesto d'Aquele que veio para servir e não ser servido, para que a Igreja continue a lavar os pés de todos, começando dos mais pobres e necessitados! O Cenáculo é novo templo! A comunhão com Deus acontece em torno de uma mesa fraterna, a oração é feita de intimidade. No Cenáculo Jesus antecipa o dom de Sua vida. Antes de Sua cruz, antecipa a nova Páscoa, para que os cristãos façam tudo o que Ele disse e fez, para assegurar a presença perene d'Ele entre nós. Dali para frente, Pão da Vida e Cálice da Salvação, do nascer ao pôr do sol, enquanto esperamos Sua vinda!
Começamos a Páscoa com Jesus e não podemos voltar atrás. O medo dos discípulos de outrora, superado com a unção do Espírito Santo, faz com que os de hoje caminhem valorosos para chegar ao Calvário. Sexta-feira Santa é a Páscoa da cruz. Olhar para a cruz, árvore da vida! Quais pássaros migratórios que percorrem os ares do mundo, pousemos sobre seus braços. Mais ainda, com suprema ousadia, entremos lá dentro do Coração de Cristo, para olhar o mundo pela fenda da chaga aberta pela lança! Tudo ficará diferente! Conversão radical, renúncia ao olhar egoísta dos fatos e sofrimentos. Na cruz de Cristo, indo com Ele até a experiência do abandono! Ele foi até o fundo do poço para resgatar o escravo. Não há mais qualquer escuridão e tristeza, desespero e até ateísmo que não sejam preenchidos pelo amor eterno de Deus. Prostremo-nos por terra em adoração! Beijemos devotos a cruz de Cristo! Que ela seja içada, qual estandarte, sobre todos os montes do orgulho humano, marcada nas frontes para que todos os homens e mulheres olhem para o Alto, onde Cristo está sentado à direita do Pai, e olhem uns para os outros, estabelecendo os laços da fraternidade. No Coração de Cristo, onde se encontram os dois caminhos da cruz, está a vitória definitiva, celebrada e comunicada a todos os passantes!

No Sábado Santo, inquietos pelo silêncio misterioso, Ele “desceu aos infernos. Significa que Cristo ultrapassou a porta da solidão, desceu ao mais profundo e inalcançável de nossa condição de solidão. Mas mesmo na noite mais escura e extrema, na qual não penetra qualquer palavra, em que nos sentimos como crianças abandonadas que choram, aparece uma voz que chama, uma mão que nos toma e nos conduz, e a noite humana mais escura é superada porque Ele entrou na noite! O inferno foi vencido quando Ele entrou na região da morte e a 'terra de ninguém' da solidão foi habitada por Ele” (Cardeal Joseph Ratzinger, “O sábado da história”, 1998).

Com as mulheres da esperança, vamos à porta do sepulcro. Parece que a terra pulsa ofegante! Certamente o coração da Mãe desolada que teve o Corpo exangue de Jesus nos braços continua batendo ao ritmo da fé. Os discípulos escondidos experimentam um misto de santa vergonha e inquietação. Dá para imaginá-los algum tempo depois, comentando o que sentiram! De repente, o primeiro dia da semana ultrapassou o sábado judaico! Ele está vivo! A morte foi vencida! O testemunho é maior dos que as notícias falsas espalhadas pelos que tramaram Sua Morte. Quando tudo parecia terminado, agora começou! “Eu vi o Senhor”, diz a apóstola dos apóstolos, Maria Madalena!

E a Igreja chega à Páscoa da Ressurreição! A noite é vencida pela luz que resplandece: “Eis a luz de Cristo!”. À luz desse lume que se espalha, a Igreja se recolhe, ouve as maravilhas da História da Salvação. Ressoa de novo o Aleluia – Louvai a Deus! Os sinos repicam e os corações exultam. De pé – posição de ressuscitado! – ouvimos o Evangelho da Ressurreição, o querigma que converte gerações! O Batismo celebrado na noite de Páscoa recebe os que renascem em Cristo e todo o povo num comum “aniversário de Batismo”, renova a fé e assume de novo seus compromissos cristãos. Enfim, recolhidos em torno do Altar, celebramos o verdadeiro Cordeiro Pascal. Alimentados na Eucaristia Pascal, são enviados os cristãos, portadores de vida, quais procissões que cantam o Aleluia, revestidos da novidade que brota da Ressurreição. Homens novos para um mundo novo. Santa e feliz Páscoa!


Foto Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Via Canção Nova

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