A
luz do Cristo ressuscitado resplandece e ilumina todos os recantos da
existência humana, portadora de esperança e vida. É Páscoa da
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo! A Igreja de Cristo celebra
sua festa maior, oferecendo a todos os homens e mulheres o grande
anúncio: “Eis agora a festa da Páscoa, em que o real Cordeiro se imolou:
marcando nossas portas, nossas alma, com seu divino sangue nos salvou.
Esta noite de Páscoa lava todo crime, liberta o pecador dos seus
grilhões; dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os
corações” (Proclamação da Páscoa na grande Vigília).
Celebramos
a festa da Páscoa. Na Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, entramos no
Cenáculo, “num andar de cima” (cf. Mc 14,15). Interrompe-se o ritmo do
cotidiano para pensar nas coisas do alto (cf. Cl 3,2). Começou a Páscoa
com a Páscoa da Ceia! Ali tudo ganha um novo sentido. A Páscoa é
preparada! Quem sabe os discípulos que foram à casa, para que tudo
estivesse pronto, sejam figura do povo de Deus que conclui sua Quaresma.
Prepara-se esta mesa com a sobriedade do jejum e da abstinência, para
se chegar à abundância do banquete da vida eterna. Para entrar no
Cenáculo, o bilhete de entrada é a caridade vivida, um amor misterioso
que inquieta, pois é mais do que uma simples amizade.
É a noite de Seu novo
mandamento, tornado visível no gesto d'Aquele que veio para servir e não
ser servido, para que a Igreja continue a lavar os pés de todos,
começando dos mais pobres e necessitados! O Cenáculo é novo templo! A
comunhão com Deus acontece em torno de uma mesa fraterna, a oração é
feita de intimidade. No Cenáculo Jesus antecipa o dom de Sua vida. Antes
de Sua cruz, antecipa a nova Páscoa, para que os cristãos façam tudo o
que Ele disse e fez, para assegurar a presença perene d'Ele entre nós.
Dali para frente, Pão da Vida e Cálice da Salvação, do nascer ao pôr do
sol, enquanto esperamos Sua vinda!
Começamos a Páscoa com
Jesus e não podemos voltar atrás. O medo dos discípulos de outrora,
superado com a unção do Espírito Santo, faz com que os de hoje caminhem
valorosos para chegar ao Calvário. Sexta-feira Santa é a Páscoa da cruz.
Olhar para a cruz, árvore da vida! Quais pássaros migratórios que
percorrem os ares do mundo, pousemos sobre seus braços. Mais
ainda, com suprema ousadia, entremos lá dentro do Coração de Cristo,
para olhar o mundo pela fenda da chaga aberta pela lança! Tudo
ficará diferente! Conversão radical, renúncia ao olhar egoísta dos fatos
e sofrimentos. Na cruz de Cristo, indo com Ele até a experiência do
abandono! Ele foi até o fundo do poço para resgatar o escravo. Não há
mais qualquer escuridão e tristeza, desespero e até ateísmo que não
sejam preenchidos pelo amor eterno de Deus.
Prostremo-nos por terra
em adoração! Beijemos devotos a cruz de Cristo! Que ela seja içada, qual
estandarte, sobre todos os montes do orgulho humano, marcada nas
frontes para que todos os homens e mulheres olhem para o Alto, onde
Cristo está sentado à direita do Pai, e olhem uns para os outros,
estabelecendo os laços da fraternidade. No Coração de Cristo, onde se
encontram os dois caminhos da cruz, está a vitória definitiva, celebrada
e comunicada a todos os passantes!
No
Sábado Santo, inquietos pelo silêncio misterioso, Ele “desceu aos
infernos. Significa que Cristo ultrapassou a porta da solidão, desceu ao
mais profundo e inalcançável de nossa condição de solidão. Mas mesmo na
noite mais escura e extrema, na qual não penetra qualquer palavra, em
que nos sentimos como crianças abandonadas que choram, aparece uma voz
que chama, uma mão que nos toma e nos conduz, e a noite humana mais
escura é superada porque Ele entrou na noite! O inferno foi vencido
quando Ele entrou na região da morte e a 'terra de ninguém' da solidão
foi habitada por Ele” (Cardeal Joseph Ratzinger, “O sábado da história”, 1998).
Com
as mulheres da esperança, vamos à porta do sepulcro. Parece que a terra
pulsa ofegante! Certamente o coração da Mãe desolada que teve o Corpo
exangue de Jesus nos braços continua batendo ao ritmo da fé. Os
discípulos escondidos experimentam um misto de santa vergonha e
inquietação. Dá para imaginá-los algum tempo depois, comentando o que
sentiram! De repente, o primeiro dia da semana ultrapassou o sábado
judaico! Ele está vivo! A morte foi vencida! O testemunho é maior dos
que as notícias falsas espalhadas pelos que tramaram Sua Morte. Quando
tudo parecia terminado, agora começou! “Eu vi o Senhor”, diz a apóstola
dos apóstolos, Maria Madalena!
E
a Igreja chega à Páscoa da Ressurreição! A noite é vencida pela luz que
resplandece: “Eis a luz de Cristo!”. À luz desse lume que se espalha, a
Igreja se recolhe, ouve as maravilhas da História da Salvação. Ressoa
de novo o Aleluia – Louvai a Deus! Os sinos repicam e os corações
exultam. De pé – posição de ressuscitado! – ouvimos o Evangelho da
Ressurreição, o querigma que converte gerações! O Batismo celebrado na
noite de Páscoa recebe os que renascem em Cristo e todo o povo num comum
“aniversário de Batismo”, renova a fé e assume de novo seus
compromissos cristãos. Enfim, recolhidos em torno do Altar, celebramos o
verdadeiro Cordeiro Pascal. Alimentados na Eucaristia Pascal, são
enviados os cristãos, portadores de vida, quais procissões que cantam o
Aleluia, revestidos da novidade que brota da Ressurreição. Homens novos
para um mundo novo. Santa e feliz Páscoa!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
Via Canção Nova
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